O medo do desconhecido não teria valor algum se a atração que sentimos pelo desafio de criar e pelo poder de dar vida a algo que antes só era visto por estar dentro de nós, não fosse realizado e concretizado por uma mistura do que vivemos, sentimos e principalmente do que temos para deixar como marca de nós mesmos.
O fantasma maior e mais sombrio não é aquele que nos afronta quando tratamos a tela como um espelho e sim aquele que temos medo de mostrar, medo maior ainda da recepção que essa “parte de mim” terá.
O ato físico aqui expressado, seja por um primeiro traço ou por vários ensaios não concretizados, são a porcentagem menos significativa de uma vontade impossível de impedir.
Aquilo que ainda não consigo definir como Arte, é um fardo que me foi dado e que independente do suporte será colocado pra fora, pois aqui dentro se forma o tempo todo, desde a primeira entrada de percepção de energia convertida em luz, até o ultimo e incansável pensamento, que é esse por sinal que não me deixa descansar e fechar meus olhos para o tão necessário e desejado “simulacro da morte”.
O pensamento cru e mais primitivo é o mais carregado de significados e contextos por mim já trabalhados, afinal, entre erros e acertos, ou melhor, entre experimentações, lutamos numa batalha eminente por uma busca de estilo e uma identidade que estampe minha marca e deixe para sempre minha digital nesse universo efêmero, cheio de espaços vazios e sem vida, afinal o papel do Artista é dar vida e terminar o que a natureza não conseguiu.
Meu desfecho se repete, encaro-a novamente e assumo que sou um vencedor, pois desde a primeira troca de olhares já sei que estou numa batalha perdida, mas mesmo assim busco forças e motivações para não me entregar totalmente, pois se eu assim fizer, só reforçará que não fui digno de carregar esse fardo ou de levar o rótulo que há muito me foi dado e espero estar fazendo jus a ele.
Por quanto tempo ainda vou carregar o mesmo nome, confesso que não sei, mas uma certeza e uma verdade eu tenho, a de que se ela não me confrontasse o tempo todo, não teria forças para a próxima pincelada ou o próximo rabiscar de um lápis, que também está cansado de ser deixado de lado como coadjuvante de um autor que levará sempre o crédito por ser o autor principal e na maioria das vezes, ter o foco principal direcionado somente a ele.
Marco Rabello